- Poliana Casemiro, G1 Vale do Paraíba e Região
Comediantes põem sob suspeita cachês para show de humor em Ilhabela
De acordo com o diário oficial, apresentações custaram entre R$ 8,3 mil e R$ 29,6 mil; os artistas ouvidos pelo G1 dizem que cachê não passa de R$ 2,5 mil pelo show. Prefeitura nega irregularidades, mas após repercussão vai abrir uma sindicância.

Um grupo de artistas contratado para uma apresentação de comédia em Ilhabela (SP) pôs sob suspeita, em vídeos postados nas redes sociais, o valor dos cachês pagos pela prefeitura para um show no último fim de semana. De acordo com o diário oficial, as contratações preveem valores entre R$ 8,3 mil e R$ 29,6 mil, mas os artistas dizem ter recebido bem menos - até R$ 2,5 mil por apresentação.
A prefeitura afirmou inicialmente que não havia cometido nenhuma ilegalidade, mas após a repercussão, informou que suspendeu os pagamentos e instaurou uma sindicância. (leia abaixo)
O ‘Ilhabela Comedy’ ocorreu entre os dias 19 e 21 de abril na ilha e teve a apresentação de 21 humoristas - entre eles comediantes conhecidos como Evandro Santo, Rodrigo Capela, Ângela Dip e Maloka. O evento foi organizado pela Fundação Cultural de Ilhabela e à imprensa, a prefeitura informou que a expectativa era receber 18 mil pessoas.
A polêmica sobre os cachês começou antes do show, quando um dos artistas, conhecido como Maloka, postou na web um vídeo com uma paródia sobre o preço do camarão em Ilhabela.
Esse vídeo viralizou, com mais de 40 mil visualizações, e levantou a discussão entre turistas e moradores na internet. Nos comentários, um dos internautas contestou a reclamação do comediante, sob o argumento que ele teria recebido R$ 12 mil em cachê para uma apresentação no arquipélago e, portanto, seria injusta a crítica. (veja abaixo)


A empresa foi contratada para promover o evento 'Ilhabela Comedy'. Na publicação, estão valores nominais do custo da apresentação de cada humorista. Na lista, figuram cachês de até R$ 29,6 mil. (veja acima)
Ao ver a publicação no Diário Oficial e os valores, Maloka rebateu. “Quem diria que o preço do camarão fosse revelar uma possível corrupção, hein?! O meu cachê, isso eu tenho como provar, foi R$ 1,7 mil por 15 minutos de show. Esses R$ 12 mil que estão falando que eu recebi, eu não recebi. Vamos me ajudar a achar o restante desse dinheiro e me ajudar a esclarecer essa história”, comentou na publicação que tem mais de 1,3 mil compartilhamentos. (veja vídeo acima)
Depois da repercussão das postagens, Maloka cancelou a apresentação no evento porque alegou ter recebido ameaças por causa da paródia. O dinheiro, segundo ele, seria pago nesta segunda-feira (22), mas ele não receberá porque não fez o show.
Outros comediantes
Outros artistas também se manifestaram. Nos comentários, Diego Menasse, também contratado, receberia pela apresentação R$ 10,4 mil, mas diz que o acordo prevê apenas R$ 1,5 mil.
Em um vídeo em sua página, o comediante João Valio diz que não recebeu os R$ 9,3 mil, mas R$ 1,5 mil pela apresentação. (veja vídeo)

Ao G1, os artistas Yuri Marçal e Evandro Santo, negaram ter recebido os valores publicados oficialmente. Yuri diz que recebeu R$ 1,7 mil pelo espetáculo e Evandro, informou por meio da assessoria de imprensa, que ganhou R$ 2,5 mil. Os dois artistas explicaram ainda que não foram contratados pela Graffic, mas por uma empresa chamada Amuleto.
A reportagem tentou contato com a Amuleto, por telefone. Uma funcionária atendeu e, ao ser informada sobre o assunto, desligou. As ligações não foram mais atendidas.
Organização
Após a repercussão das acusações nas redes sociais, a Graffic se manifestou com uma nota publicada na página do evento no Facebook. Ninguém atendeu as ligações do G1.
Na nota na web, em nome da Graffic, a empresa justifica que as informações divulgadas são infundadas e que os valores que constam na publicação incluem, além da apresentação, infraestrutura, divulgação, alimentação e transporte da equipe do evento.
Na nota, diz ainda que a prefeitura da ilha não é responsável pelo pagamento do cachê ou qualquer outra despesa dos artistas, que é de responsabilidade da empresa.
O G1 tentou acessar no Portal da Transparência de Ilhabela o edital para a contratação da empresa que realizou o evento ou a publicação em que consta a Graffic como contratada, mas não encontrou. A reportagem apurou que os documentos teriam sido retirados do portal oficial após a polêmica.
Prefeitura
A prefeitura informou na manhã desta segunda-feira que contratou a empresa para o evento, mas que o pagamento de cachê era de responsabilidade da contratada.
Em nota, disse que iria "disponibilizar toda a informação necessária ao esclarecimento de especulações sobre a contratação do evento”, mas até a publicação não informou o motivo do edital não estar no site e porque essas informações não constam Portal da Transparência. De acordo com o diário, apenas pelas apresentações, o gasto com o evento superou R$ 250 mil.
No fim da tarde, após a repercussão, a prefeitura enviou uma nova nota em que afirma que será aberta uma sindicância para apurar denúncias e suspendeu os pagamentos até que os fatos sejam devidamente esclarecidos.
"O evento [Ilhabela Comedy] é realizado pelo terceiro ano consecutivo na cidade, pela mesma empresa detentora de sua patente. A licitação é dispensada porque sendo o 'artista único', não existe essa necessidade de cotação de valores, conforme Lei 8.666, de 21 de junho de 1993".
A prefeitura defendeu que o evento de entretenimento é diferenciado e que tinha como intenção atrair turistas e gerar emprego e renda. "Os eventos foram realizados à noite, possibilitando mais uma opção de lazer. Foi realizado durante três dias, em locais estratégicos, sendo a Praia Grande, Vila e Praia do Perequê", disse a administração municipal.