- Carlos Rocha
A Voz dos Animais: A falta de transparência na gestão do CCZ em Ubatuba
Queremos evitar que falsas verdades sejam divulgadas e precisamos acompanhar o que acontece no CCZ. Precisamos que as denúncias sejam averiguadas por órgãos competentes, que tenham isenção em seus pareceres.

Castor sendo retirado do CCZ para ser tratado - Foto: Arquivo pessoal
Nos últimos dias temos repetidamente falado sobre as condições do CCZ de Ubatuba e a situação em que vivem os animais de lá. Há anos estamos fazendo um trabalho de apoio àqueles animais, não só em relação à saúde, mas também ao bem-estar deles.
Por dois anos consecutivos, conseguimos doar vacinas polivalentes para todos os cães e por vários anos levamos doação de cobertores, já que o local é muito frio no inverno. Nos últimos tempos, acabamos preocupados com a situação daqueles animais, confinados em gaiolas pequenas ou em baias frias, úmidas e solitárias, cada vez com menos chance de encontrar um lar amoroso já que o CCZ não promove feiras de adoção, tampouco eventos de conscientização sobre a guarda responsável de animais.
Nesse tempo de trabalho no CCZ, nosso grupo conseguiu doar dezenas de animais que agora vivem muito felizes com famílias responsáveis. Alguns foram retirados de lá com doenças sérias, pois não tinham o tratamento veterinário adequado como bicheira, erlichiose (doença do carrapato), parvovirose e verminoses. O CCZ de Ubatuba é deficitário em vários fatores, entre eles, carece efetivamente de abastecimento de água potável. A água que eles utilizam vem de uma nascente contaminada e fica armazenada em caixas sem proteção, que podem, inclusive, servirem como criadouros de larvas de vários mosquitos nocivos à saúde humana e à saúde dos animais também.

Água de nascente, sem tratamento e armazenada em caixa d'água suja e sem proteção é utilizada para abastecimento dos animais do CCZ - Foto: Arquivo pessoal
Algumas baias, onde ficam os animais considerados com potencial agressivo, como pitbulls, estão com a estrutura comprometida, que podem possibilitar a fuga desses animais e colocar em risco a vida de outros animais e humanos. Essas baias ficam num corredor sem incidência de luz solar, com muita umidade e insalubridade.
O gatil, construído por exigência do MP, foi praticamente desativado por falta de manutenção, colocando a vida de muitos gatos em risco. Vários gatos desapareceram, enquanto uns vivem soltos e outros estão confinados em gaiolas pequenas.

Condições precárias do gatil, construído sob exigência do Ministério Público e, hoje em dia, totalmente sem manutenção - Foto: Arquivo pessoal
Agora temos mais um agravante: burocratizaram a visitação ao CCZ, dificultando exponencialmente a chance daqueles animais receberem benefícios como doações, carinho humano e adoção consciente. O local, por si só, já dificulta a visitação. É muito distante da região central de Ubatuba e de difícil acesso.
E quem sofre com isso são os animais confinados e obrigados a viverem sem esperança de ter uma família.
O assunto tem repercutido negativamente para a prefeitura. Estamos recebendo denúncias de todo o tipo com relação não só às dificuldades que as pessoas encontram para adotar um animal, mas também com relação às condições precárias que os animais têm enfrentado. Temos recebidos inclusive, relatos de maus-tratos praticados contra os animais sob a tutela do CCZ.
Segundo matéria divulgada no portal e nas redes sociais da prefeitura, o Conselho Municipal de Saúde fez uma visita “surpresa” ao local e atestou que os animais estão bem tratados e que todos os pontos das denúncias são falsos. Que os animais têm passeio, área para tomar sol e ração e água de qualidade.
Sabemos que o Conselho Municipal de Saúde é formado por pessoas que têm proximidade com o poder público e que não é, nem de longe, o melhor órgão para atestar as condições de saúde e de vida a que são submetidos os animais do canil. É um órgão municipal fiscalizando uma denúncia feita contra um órgão municipal? E tem mais, o veterinário que faz parte do Comus não participou da visita ao CCZ!
Queremos evitar que falsas verdades sejam divulgadas e precisamos acompanhar o que acontece no CCZ.
Precisamos que as denúncias sejam averiguadas por órgãos competentes, que tenham isenção em seus pareceres.
Nossa única motivação é o bem-estar daqueles animais. Queremos que o CCZ ofereça melhor condição de estadia para os animais recolhidos. Estamos aptos e proativos para ajudar na jornada de encontrar um lar para esses animais, porém, precisamos de respeito ao nosso trabalho e, sobretudo, transparência do órgão competente no trato com os protetores!

Gatinho filhote deixado doente no CCZ e sem atendimento - Foto: Arquivo pessoal

O mesmo gato sendo atendido por veterinário particular, pago com recursos próprios. O gato muito novo não teria sobrevivido no CCZ - Foto: Arquivo pessoal

O gato, agora na casa do adotante com seu irmão felino - Foto: Arquivo pessoal

Bola, largado isolado numa das baias para cães agressivos. Foi adotado com a doença do carrapato, Erlichiose, facilmente tratada com antibióticos. Hoje, vive feliz com a nova família. Foto: Arquivo pessoal
Carlos Rocha é cidadão de Ubatuba e atua na proteção animal desde 2007. Neste espaço, irá contar um pouco sobre o que vivencia na área de proteção e bem-estar animal e, também, o que ele acha que é necessário para Ubatuba avançar efetivamente nessa área.